Maha Kali (Mãe Kali, deusa Tântrica)

iasmin flor
2 min readNov 18, 2020

--

Temida por muitos, venerada pelos tântricos como a deusa mãe do poder e do amor absolutos. Sua pele é preta ou azul-escuro, como a noite, porque é Ela a grande unificadora da dualidade, a que faz todas as coisas desaparecerem em sua escuridão.

Nascida de uma projeção do terceiro olho da suprema deusa hindu, Durga, em um momento de súplica, Durga invoca a sua fúria para que pudesse derrotar os demônios com os quais travara uma batalha, somente uma deusa demoníaca como Kali seria capaz de realizar tal missão.

Ela é a grande mãe cósmica, escura como a tempestade, nua, pois está vestida de espaço, com sua cabeleira insana, Kali cria o cosmos, os elementos e a linguagem. Ela é a destruidora do tempo, a verdade suprema. É a fonte de vida que nos nutre e nos recompensa por toda audácia e inconformismo.

Sua Yoni (vagina, em sânscrito) contempla o cosmos e é dela que emerge o poder do lingam de Shiva, não o oposto. Shiva sem sua Shákti (i) seria Shva, que em sânscrito significa “um corpo despojado de força”, inerte. O que significa que a força de Shiva, o arquiteto do mundo, emerge do poder absoluto do feminino.

Seus braços representam o ciclo de criação e destruição, o ritmo cósmico, a natureza circular da vida-morte-vida, em contínuo movimento. O sangue que emana de Kali é o sangue menstrual, a manifestação de seu poder, considerado um néctar divino.

Kali corta com sua espada o diálogo mental interno, permite que o corpo se junte ao todo sem deixar que a mente se renda à dualidade. As cabeças cortadas significam o silêncio, o silêncio que nos abre para a alegria.

Para Kali, não existe nem bem, nem mal — tudo se equilibra no infinito. sem mérito ou demérito. nenhum erro, nenhum ato glorioso. tudo o que resta é o jogo cósmico no qual somos apenas partículas, elétrons livres e dançantes.

Seu aspecto temível se faz presente para impulsionar a coragem necessária para ir além das limitações da mente. É nela que dissolvemos os elementos da ilusão, o ego, a diferenciação. Ela é o fim dos conceitos, das verdades, dos dogmas e das limitações emocionais.

Seu Tandava (dança cósmica) é a dança da criação e dissolução, na qual Shákti vencerá Shiva, reestabelecendo o poder feminino, impondo o seu ritmo e convidando-nos a criar e destruir, em um ciclo infinito.

Kali, por meio do Tandava, expressa a criatividade do Caos.

Toda imagem literal e metafórica de Kali está assim impregnada de significado espiritual e a meditação sobre o simbolismo da deusa tem, por si só, o poder de transformar seus devotos. Jay Maha Kali!

Fonte: livro “Kali: mitologia, práticas secretas e rituais”, Daniel Odier.

--

--