Mapa para a investigação do desejo

iasmin flor
3 min readJan 18, 2023

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Muito se fala sobre fazer escolhas pautadas no nosso "real desejo", ser você a sua bússola e buscar neutralizar as expectativas externas. Certamente você já leu alguns textos nesse sentido por aí, certo?

Mas esse texto não será mais um deles (alinhando as expectativas).

Isso porque talvez eu mesma não acredite que é possível encontrarmos essa pedra filosofal da qual tanto se fala e pouco se conhece: "o verdadeiro eu" ou "voz da alma". Até porque, se minha alma é mesmo eterna eu sei tanto quanto ela e estamos juntas nesse barco, ainda errando.

Mas, ao mesmo tempo, se não investigarmos nossos desejos, sentimentos e emoções… as nossas atitudes serão eternamente como um rio bravo e turvo, que não se pode ver o fundo. Então, mesmo sabendo que talvez seja impossível eliminar todas as expectativas do mundo sobre nós, podemos selecionar aquelas as quais não nos cabe mais atender. Além de revisitar também o ideal que temos sobre nós mesmos. Afinal, aquilo que pensamos ser talvez não seja lá bem como somos.

Por isso, estar aberto às perguntas. São elas que movem nosso corpo para novas direções — e quem não muda de direção, afunda, não descobre novos mares. Sendo assim, que tal começar perguntando: o desejo real, existe? Ou todo desejo é real, até que não seja mais?

Qual é o desejo que está por trás dos meus desejos?

Por que desejo aquilo que penso desejar? Depois que reflito as razões, permaneço desejante?

Dá pra investigar um desejo, sem tirar pedaço dele? E se eu provar, com um só pedaço já me satisfaço? Ou, quando me esgoto em provar, continuo querendo mais?

Com que frequência esse desejo me invade? Quais sensações o desejo marca em mim? E essa marca, fica no meu corpo por quanto tempo? Eu gosto dessa sensação e marca, ou são como ressaca?

Esse desejo vem de alguma falta ou excesso? Busco me completar naquilo que desejo? Busco me transbordar?

O desejar é intermitente ou se faz sempre presente? Se o desejo vai e vem, ele volta mais fraco ou mais forte?

Consigo ficar face a face com meu desejo, sem impor uma carga moral?

Se nada (nem ninguém) me impedisse de realizar esse desejo, eu o realizaria? O quão veloz eu seria em agir para realizar?

A realização desse desejo vai de encontro com meus princípios éticos? Eu tenho elencado quais são os meus princípios éticos? Em função de quem? Do mundo? Ou do que eu penso do mundo?

Onde quero estar, no momento em que realizar o meu desejo? Posso chegar lá por outros meios? Se posso, desejo?

Esse desejo nasce em mim? Ou do desejo de alguém?

Quais são os meios, reais e imaginários, de realizar meu desejo? Qual deles é capaz de encher a barriga? Há bordas no meu desejo, por onde começar a mastigar?

Uma vez me convenci de que era mais importante saber fazer as perguntas, do que achar as respostas. Ou também, que não nos preocupemos tanto em saber quem somos, mas, que nunca deixemos de nos buscar.

Imagem: Remedios Varo

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